domingo, 27 de setembro de 2009

Almas Perfumadas

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Ana Cláudia Saldanha Jácomo
(Para minha avó Edith)

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.

Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia. Minha avó era alguém assim. Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores. A minha, foi uma delas. E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado, que ela mudou de frasco, mas ele continua vivo no coração de tudo o que ela amou. E tudo o que eu amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de Edith, para me falar de amor.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Psiquetipia (Ou Psicitipia)

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Quando não consigo me sentir criativo, sempre me socorro a um grande autor para me salvar, mas, tenho uma preferência, para não dizer simpatia por Alvaro de Campos, um dos heterônimos do grande Fernando Pessoa. Acho que sou uma reencarnação extremamente defeituosa desse senhor.Tudo o que ele escreve tem um grande sentido para mim. A quem me conhece, não preciso nem explicar o fato de dizer isso. Boa leitura...



Símbolos. Tudo símbolos
Se calhar, tudo é símbolos...
Serás tu um símbolo também?
Olho, desterrado de ti, as tuas mãos brancas
Postas, com boas maneiras inglesas, sobre a toalha da mesa.
Pessoas independentes de ti...
Olho-as: também serão símbolos?
Então todo o mundo é símbolo e magia?
Se calhar é...
E por que não há de ser?
Símbolos...
Estou cansado de pensar...
Ergo finalmente os olhos para os teus olhos que me olham.
Sorris, sabendo bem em que eu estava pensando...
Meu Deus! e não sabes...
Eu pensava nos símbolos...
Respondo fielmente à tua conversa por cima da mesa...
"It was very strange, wasn’t it?"
"A wfully strange. And how did it end?"
"Well, it didn't end. It never does, you know."
Sim, you know... Eu sei...
Sim eu sei...
É o mal dos símbolos, you know.
Yes, I know.
Conversa perfeitamente natural... Mas os símbolos?
Não tiro os olhos de tuas mãos... Quem são elas?
Meu Deus! Os símbolos... Os símbolos...

sábado, 11 de julho de 2009

A sombra e a ilusão

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De volta ao lar...Já tinha quase me esquecido que tinha um blog. A vida tá muito corrida.
Mas como hoje tinha uma nova lamentação, aqui estou.Espero que apreciem o texto.
Até mais.

Não sei mesmo dizer o que desperta em mim a ilusão na qual a vejo;
Ou o que me faz parecer lembrar você... Ainda nem te conheço.
O sonho bom que alegra todo o meu dia;
É a realidade sombria que me impede de dormir durante a noite.
Não sei porquê me faz sonhar acordado;
Se quando deito sua ausência me assombra.
Durante todo o meu dia fico na expectativa;
De quando irá aparecer e iluminar a minha existência;
Com o mais singelo gesto: "um sorriso".
Mero devaneio, outra vez não vieste;
Será que os deuses do amor se esqueceram de mim?
Será que você nunca virá à existir?
Seria tê-la outra mera fantasia criada pela minha conturbada mente;
Que de forma descarada à mim mente, e me enche de ilusões;
Que me fazem acreditar que num relance, no meu despertar amanhã, estarás ali.
O lindo sorriso com o qual sonho e me traz o calor;
Contrasta com as lagrimas da desilusão que choro todas as noites,
Frias e sombrias, nas quais sem ti, retorno a realidade.

domingo, 29 de março de 2009

Responsabilidade: Use-a

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Você ainda esta esperando a hora certa em que um dia não mais se preocupará com a vida e muito menos em como encaminhá-la?
Está sempre pilhado demais e em alguns momentos tudo o que mais quer é desligar um pouco o alerta de incêndio e ver o mundo pegar fogo sem sentir a mínima responsabilidade pelo acontecido?
È difícil entender porque, mas sempre esta fazendo a mea culpa de coisas que não controla e não são da sua responsabilidade?
Pessoas como você são fundamentais no mundo. Fique tranqüilo, você não está sozinho, mas você faz parte de uma minoria que embora digam estar propensa a perder muito com isso, se coloca a disposição para dar o melhor de si em todas as circunstancias, e muito embora isso não seja tão valorizado ultimamente, não há ninguém tão especial como você.
As pessoas me perguntam sempre o porquê de ficar me preocupando a toa, afinal, não sou o responsável pelo fim do mundo. Só que ninguém me dá a receita certa de como conseguir me sentar e ver tudo explodir, como uma queima de fogos no final de ano.
Realmente queria aprender como ser assim, deixar que as coisas se resolvam instantaneamente como se fosse por mágica. Não consigo ficar parado “a ver a banda passar” sabendo que faço parte dela e o som do meu instrumento poderia ajudar (ou atrapalhar), mas como já disse o “sábio”, importante é participar. (risos.) E já que não vim ao mundo a passeio, tenho que fazer alguma coisa mesmo que ela não sirva para nada.

Em alguns momentos tudo que espero é que os outros também façam a sua a parte, sem ser obrigado, simplesmente por bom senso. Já aprendi que não posso esperar nada de ninguém e nem cobrar. Cada um faz o que acha que deve fazer, e que se dane se o que foi feito corresponde ou não com o que era esperado, foi feito e pronto. Mas porque não fazer? Será que é tão difícil tirar a bunda do assento e se pôr à serviço. E por que será que alguns se sentem no direito de reclamar se na hora de “por a mão na massa”, eles fogem de suas responsabilidades?
O que me mata é que cada vez mais se difunde a idéia de que o que vale é se aproveitar da boa vontade dos outros. E nesse papel quem gosta de dar o auxílio sempre se dá mal, porque sempre tem um esperto para querer tirar vantagem de pessoas assim. E ai fica a duvida, será que realmente vale a pena ser prestativo e agir com bondade?
Mesmo assim, espero que continuem existindo no mundo pessoas de boa fé e que acreditem nos ideais da cooperação e da boa vontade, pois, por mais árdua que seja a tarefa, não há nada que a determinação não vença e a “verdadeira recompensa pode estar bem ali, atrás da mais rochosa montanha”. E só quem se coloca à serviço poderá ter a satisfação em suas conquistas.
"O soldado da paz não pode ser derrotado
Ainda que a guerra pareça perdida;
Pois quanto mais se sacrifica a vida
Mas a vida e o tempo são os seus aliados "
(Herbert Vianna)

domingo, 22 de março de 2009

Por favor, garçom, desce mais uma confusão!!!( Em busca de companhia)

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Olá tripulantes; o bom filho a casa torna...Depois de algum tempo sem vir aqui lamentar nada, me inspirei e vim "filosofar" e compartilhar aqui na Nau sobre uma duvida que muitos têm mais poucos se sentem loucos o bastante para debater sobre. Espero que se alguem encontrar a solução para esse pequeno dilema, compartilhe essa descoberta comigo. Espero que encontrem a resposta rapido.

Boa leitura a todos.


Tudo que queria saber sobre mim é onde realmente me encaixo.
Alguns vêem prazer em estarem sós, outros estão tristes pelo mesmo motivo.
E eu, estou bem no meio disso...
Estar sozinho, ser único é de fato especial, mas em alguns momentos esse estar só contrasta com a estranha duvida de ser metade, mesmo que essa metade que falta não interfira no devir de viver, a metamorfose da vida parece inconstante e incompleta.
Às vezes sinto a necessidade de que uma nova peça entre na roda, participe do jogo, e me ajude a viver, a construir e a mudar. Mas na verdade o que realmente me falta é entender o complexo paradoxo de dividir para ser inteiro.
O viver em um monólogo não é ruim, algumas vezes curtir o prazer de estar na presença do eu é simplesmente tudo que desejo. Ouvir os meus pensamentos, meditar sobre a minha existência, caminhar sem rumo a escutar o vento a cantar a mais bela canção, e a indescritível sensação de independência gratificam o existir com a certeza de que sou em minha unidade perfeição e completude da natureza.
Não é difícil entender o estar no meio tendo ao meu dispor duas campanha tão encantadoras e desejosas. Mas se escolho um perco a outra? Acho que não.
E nesse momento vejo que novamente a duvida está mesmo em mim, a insatisfação com o eu é evidente quando ao estar só eu quero estar junto e vice-versa, mesmo sabendo que posso viver as duas vertentes, mas não uni-las.
Descubro por fim, que o que realmente está cindido não é a possibilidade que vejo fora de mim, e sim o meu eu, ou nesse caso especial os dois “eus”.
Como diz aquela musica “quero me encontrar, mas não sei onde estou, vem comigo procurar algum lugar mais calmo”, e ao encontrar em meu interior esse lugar não sei se em minha companhia ou na companhia de “certo alguém”, vou estar completo, pois, a cisão que em mim existia terá encontrado o elo que me deixa aceitar as oposições.Utilizando uma analogia com o clássico de Stevenson de forma metafórica, não quero ser Henry Jekyll, muito menos ser Edward Hyde, quero encontrar a fusão que une as duas partes da mesma pessoa e que resolva o conflito entre a “sanidade e a loucura” entre solidão e seu oposto. Será possível? Eu acho que sim, e o que você pensa sobre isso?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Eros e Psiquê (Fernando Pessoa)

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Já estava passando da hora de renovar minha visita aqui no blog. Estou como um pai desnaturado que abandono o filho ao relento.Que atitude horrivel.
Bem, mas aproveitando a folga do carnaval, e só prá isso essa "festa sem noção" serve, vou postar um belo texto de um grande autor, Fernando Pessoa, à proposito um dos meus favoritos.
Espero que apreciem...Até uma proxima vez.Espero não demorar muito.
Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.

Ele dela é ignorado.
Ela pr´a ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
– Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada afora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça em maresia,
Ergue a mão, encontra a hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.